terça-feira, 27 de novembro de 2012


João sempre teve que correr atrás daquilo que ele queria. Nasceu prematuro, lutou para sobreviver e nos anos seguintes continuou sendo assim. Teve uma infância difícil, pobre e sofrida. Na escola não entendia direito o que a professora falava. Era uma senhora cansada e triste. João nunca viu sua professora sorrir. Ele não ficou muito na escola. O suficiente para ler e escrever, ainda com certa dificuldade. Passou a ficar em casa e ajudar seu pai com o trabalho. Seu pai estava velho e já não tinha mais a força de antes. Um dia, enquanto ajudava seu pai, viu umas crianças brincando despreocupadas. “Elas já trabalharam?”, João se perguntou, Por que elas estão brincando?”. Ele não entendia.

Mesmo com João ajudando, um dia faltou comida em casa. Neste dia os três deitaram mais cedo. Ninguém dormiu. Apenas suspiravam e escutavam a sinfonia da pobreza, tocando cada vez que suas barrigas roncavam. No dia seguinte João perguntou ao seu pai por que não tinha comida. Ele disse que não tinha dinheiro. Sem dinheiro, sem comida. Dinheiro é tudo nesta vida. Semanas depois seu pai lhe chamou: “Está vendo esta moeda? É com ela que compramos comida. Você tem que ter dinheiro, João. Tem que pegar uma moeda e fazer com que vire muitas. Como sementes que se planta pra que se tenham mais sementes” E João escutou.

Não demorou muito para voltar a frequentar a escola. Desta vez para lavar os carros no estacionamento. Ele não queria perder tempo estudando, ele queria nunca mais passar fome, queria uma cama melhor, queria dinheiro. Pulou de um emprego a outro e juntou o máximo que podia. A pouca alfabetização que teve foi suficiente para abrir uma pequena empresa, que não demorou a crescer. Contratou funcionário, mudou-se da favela e levou os pais com ele. João mudou de vida. Casou com uma mocinha calada. Ela não lhe pedia vestidos ou sapatos. João gostava que ela não gastasse seu dinheiro. Ficava na empresa até tarde e sempre chegava cedo. Ele vivia pelo dinheiro.

Acontece que um dia estava saindo da empresa e foi caminhando para casa, como sempre fazia. Desta vez havia um menino franzino engraxando sapatos na esquina. Lembrou-se de quando era jovem, dos empregos nos quais já tinha trabalhado. Num impulso, pegou a carteira e se sentiu bem ao ver seu dinheiro. Foi quando caiu uma moeda e saiu rolando para fora da calçada... João correu. O sinal abriu. Seu corpo foi jogado longe, ainda quente, mas já sem vida. Dizem que quando o socorro chegou a moeda ainda estava na mão dele.  Pobre João, viveu pelo dinheiro, morreu pelo dinheiro.

- Eu pensei que você ia me contar a história de João e o pé de feijão.
- Esta é a verdadeira história. Ele achou que se tivesse muito dinheiro poderia comprar os feijões mágicos e ir embora daquele lugar ruim. Mas isto foi quando ele era criança, depois ele cresceu e esqueceu a finalidade do dinheiro. João nasceu pobre e morreu pobre.
- Então ele morreu, mas deve ter ido pra o castelo nas nuvens, não é?
- É. (Ou não).



"o comércio estava pronto
e vendeu bem
No dia de São Ninguém

Ainda não fazem pessoas de algodão
Ainda não fazem pessoas que enxuguem
suas próprias
mágoas"
(Cícero -  João e o pé de feijão)

domingo, 18 de novembro de 2012

Em algum momento a pergunta volta, mas a resposta é a mesma. 

A filosofia vai além daquilo que é escrito e falado. Vai além do do que é cuidadosamente pensado. Leva além dos lugares que na mente já foram condenados. É amar o que não se poderá alcançar, tocar, ver. Não é amar para ter. É amar pelo amor e isto basta. É estudar a lógica do que ainda não se conhece. A história do que não foi vivido. Ver por cima do que está posto. Criar uma linguagem para o que não se pode dizer com palavras. Não é citar Platão ou Nietzsche. 
Filosofia é sentir. Mentem as línguas pseudo-intelectuais que dizem "não". Falou a verdade aquele que lhe deu o nome. E ainda podemos ver esta verdade nos olhos daqueles que contemplam.

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Um constante vir a ser. Seguindo a sombra dos moinhos de vento...