quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Gosto de chuva.

Parece que hoje vai chover. Ele não reparou nisto quando saiu de casa. Antes mesmo de o sol nascer, foi para qualquer lugar. Ele disse que iria, mas ninguém quis acreditar (ou não tinha ninguém pra ouvir). Hoje a vizinha não vai ouvir o seu cantarolar ao sair de casa. Vai sentir falta de algo, mas não vai saber dizer o que é. Hoje a mocinha, que trabalha no mercado perto dali, não vai sentir o cheiro de café quando passar pela sua porta. E vai sentir falta de algo, mas vai estar atrasada demais para pensar nisto. O gato malhado, com a ponta do rabo quebrada, vai chegar na hora do almoço, e a porta estará fechada. Este sim sabe o que falta! Mas não pode dizer para ela. Nem pra ninguém. E ele continua caminhando, sem pensar em nada disto. Agora ele só quer saber se vai chover. Quando começou a pensar para onde ir um pingo caiu bem em seu ombro. Não demorou muito para que o resto viesse junto. Só que aquela era uma chuva estranha... Fininha... Lenta... Ele quase não percebeu que já estava todo molhado. Foi quando deixou a boca abrir... Ou ela abriu só? Não importa, importa o gosto que a chuva tinha. Sim! Tinha gosto! A garganta apertou e, antes que pudesse segurar, escapou uma lágrima. Olhou para o céu, apertou os olhos para ver melhor, e lá estava seu pai dizendo: "Homem não chora!". E ele dirá, sem abrir a boca: "Eu sei, mas eu não tenho culpa. Tomei chuva com gosto de melancolia."

Quem sou eu

Minha foto
PE, Brazil
Um constante vir a ser. Seguindo a sombra dos moinhos de vento...