domingo, 30 de dezembro de 2012

Como uma sacola a voar...

Livre pelo céu. Se olhar para o alto poderá vê-la. Terá que correr e saltar para alcançá-la. E dirão que não é alto o suficiente. E dirão que não dá. Mas o vento sempre irá mudar. E quando menos esperar, será um tempo bom para mudanças. 
Abra a janela, veja a sacola a bailar no ar. Você entende que a fragilidade que você teme é o que a faz ir mais alto? Deixe-me pular. Os ventos estão mudando. Consegue sentir?


Good times for a change 

See, the luck I've had 
Can make a good man 
Turn bad 



So please please please 
Let me, let me, let me 
Let me get what I want 
This time 




Haven't had a dream in a long time 
See, the life I've had 
Can make a good man bad 




So for once in my life 
Let me get what I want 
Lord knows, it would be the first time 
Lord knows, it would be the first time

(Please, Please, Please, Let Me Get What I Want- The Smiths)

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Hello, Goodbye!

Não existe jeito bom de fazer isto, então, só resta o adeus.











domingo, 2 de dezembro de 2012


Esqueci de dizer, gostei dos elefantes.


Já viu um elefante? Eu vi. São sempre maiores do que você imagina. São imponentes. Lindos de tirar o fôlego. Mas, apesar de tão grandes e fortes, são as criaturas mais doces que existe. Não quer dizer que não sintam raiva; que não usem sua força. O perigo é que são criaturas quase que indecifráveis. Quer saber o segredo? Você tem que olhar nos olhos dele. O problema é a altura. Como alcança-los?! Não tem como. São elefantes, lembra? Com o tempo descobri que só há um jeito. É preciso calma, paciência. Esperar para que ele desça até você. Esperar que ele queira olhar em seus olhos. Assim ele verá você e você a ele. Assim serão iguais.
Eu disse que um dia vi um elefante, mas ele não me viu. Apenas olhou rapidamente para mim e continuou a caminhar. Chamei, pulei ao seu redor, tentei o segurar, chorei... Porém nada disto fez com que ele quisesse olhar para mim. Sentei numa pedra qualquer, que me machucou o corpo, mas talvez, só talvez, quando ele voltasse me veria; estando eu mais alta. Com os braços ao redor das pernas comecei a esperar. Imaginei a natureza rindo de mim, apontando o dedo pra o minúsculo pontinho que eu me tornara naquela imensidão. Não pude deixar de rir também. Tava começando a concordar com ela.







terça-feira, 27 de novembro de 2012


João sempre teve que correr atrás daquilo que ele queria. Nasceu prematuro, lutou para sobreviver e nos anos seguintes continuou sendo assim. Teve uma infância difícil, pobre e sofrida. Na escola não entendia direito o que a professora falava. Era uma senhora cansada e triste. João nunca viu sua professora sorrir. Ele não ficou muito na escola. O suficiente para ler e escrever, ainda com certa dificuldade. Passou a ficar em casa e ajudar seu pai com o trabalho. Seu pai estava velho e já não tinha mais a força de antes. Um dia, enquanto ajudava seu pai, viu umas crianças brincando despreocupadas. “Elas já trabalharam?”, João se perguntou, Por que elas estão brincando?”. Ele não entendia.

Mesmo com João ajudando, um dia faltou comida em casa. Neste dia os três deitaram mais cedo. Ninguém dormiu. Apenas suspiravam e escutavam a sinfonia da pobreza, tocando cada vez que suas barrigas roncavam. No dia seguinte João perguntou ao seu pai por que não tinha comida. Ele disse que não tinha dinheiro. Sem dinheiro, sem comida. Dinheiro é tudo nesta vida. Semanas depois seu pai lhe chamou: “Está vendo esta moeda? É com ela que compramos comida. Você tem que ter dinheiro, João. Tem que pegar uma moeda e fazer com que vire muitas. Como sementes que se planta pra que se tenham mais sementes” E João escutou.

Não demorou muito para voltar a frequentar a escola. Desta vez para lavar os carros no estacionamento. Ele não queria perder tempo estudando, ele queria nunca mais passar fome, queria uma cama melhor, queria dinheiro. Pulou de um emprego a outro e juntou o máximo que podia. A pouca alfabetização que teve foi suficiente para abrir uma pequena empresa, que não demorou a crescer. Contratou funcionário, mudou-se da favela e levou os pais com ele. João mudou de vida. Casou com uma mocinha calada. Ela não lhe pedia vestidos ou sapatos. João gostava que ela não gastasse seu dinheiro. Ficava na empresa até tarde e sempre chegava cedo. Ele vivia pelo dinheiro.

Acontece que um dia estava saindo da empresa e foi caminhando para casa, como sempre fazia. Desta vez havia um menino franzino engraxando sapatos na esquina. Lembrou-se de quando era jovem, dos empregos nos quais já tinha trabalhado. Num impulso, pegou a carteira e se sentiu bem ao ver seu dinheiro. Foi quando caiu uma moeda e saiu rolando para fora da calçada... João correu. O sinal abriu. Seu corpo foi jogado longe, ainda quente, mas já sem vida. Dizem que quando o socorro chegou a moeda ainda estava na mão dele.  Pobre João, viveu pelo dinheiro, morreu pelo dinheiro.

- Eu pensei que você ia me contar a história de João e o pé de feijão.
- Esta é a verdadeira história. Ele achou que se tivesse muito dinheiro poderia comprar os feijões mágicos e ir embora daquele lugar ruim. Mas isto foi quando ele era criança, depois ele cresceu e esqueceu a finalidade do dinheiro. João nasceu pobre e morreu pobre.
- Então ele morreu, mas deve ter ido pra o castelo nas nuvens, não é?
- É. (Ou não).



"o comércio estava pronto
e vendeu bem
No dia de São Ninguém

Ainda não fazem pessoas de algodão
Ainda não fazem pessoas que enxuguem
suas próprias
mágoas"
(Cícero -  João e o pé de feijão)

domingo, 18 de novembro de 2012

Em algum momento a pergunta volta, mas a resposta é a mesma. 

A filosofia vai além daquilo que é escrito e falado. Vai além do do que é cuidadosamente pensado. Leva além dos lugares que na mente já foram condenados. É amar o que não se poderá alcançar, tocar, ver. Não é amar para ter. É amar pelo amor e isto basta. É estudar a lógica do que ainda não se conhece. A história do que não foi vivido. Ver por cima do que está posto. Criar uma linguagem para o que não se pode dizer com palavras. Não é citar Platão ou Nietzsche. 
Filosofia é sentir. Mentem as línguas pseudo-intelectuais que dizem "não". Falou a verdade aquele que lhe deu o nome. E ainda podemos ver esta verdade nos olhos daqueles que contemplam.

domingo, 2 de setembro de 2012

L'autunno


Logo, logo, será primavera novamente.


Beijo estalado, brigadeiro na panela, chorar de tanto rir, filme em dia de chuva, abraço apertado de chegada, nota 10 quando menos se espera (e quando se espera também), noticias de além-mar, noticias de cá, desenho no sábado pela manha, mordida de fruta colhida na hora, toalha quentinha, café da manha na cama, sorriso de graça, a cura para aquela dor, lua cheia, almoço de domingo, silêncio durante o livro, atalho no vídeo game, cheiro de velhinho, mão de amigo no tropeção, um oitavo dia na semana, música, muita música... 

Por hora, que venha Setembro. E que as folhas de outono levem os desgostos de Agosto. 

Allegro    
                                                                    
Celebra il Vilanel con balli e Canti               
Del felice raccolto il bel piacere                   
E del liquor de Bacco accesi tanti                  
Finiscono col Sonno il lor godere   
               
Adagio molto 

Fa' ch' ogn' uno tralasci e balli e canti          
L'aria che temperata dà piacere,                  
E la Stagion ch' invita tanti e tanti                  
D' un dolcissimo Sonno al bel godere.           

Allegro 

I cacciator alla nov'alba a caccia                      
Con corni, Schioppi, e canni escono fuore     
Fugge la belva, e Seguono la traccia;               
Già Sbigottita, e lassa al gran rumore              
De' Schioppi e cani, ferita minaccia                  
Languida di fuggir, ma oppressa muore.  

(Antonio Vivaldi - As quatro estações: Outono)



segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Na dúvida entre quem eu realmente sou, a única certeza é a da loucura.


Existe a pessoa que sou e a pessoa que eu acho que sou. Acho que sou, acho que penso, acho que acho... Acho tanto que não encontro nada no abismo entre mim e eu mesma.



[...]até agora
você não tinha visto uma
escada que se parecesse com
uma escada
uma maçaneta que se parecesse com
uma maçaneta
e sons como esses sons

e quando a aranha aparece
e olha você
por fim
você já não odeia
por fim
com ela a milhas de distância
rindo com um 
louco.


(Charles B. - Comunhão)

sábado, 4 de agosto de 2012

Em terra de cego todo mundo é rei.



Depois que a porta no carro fechou não falou uma palavra sequer. Alice estava encolhida em um canto, com os braços cruzados e os olhos na janela. A luz do sol indo diretamente para eles fez parecer que nunca foram tão azuis. De fato, nunca foram. A doença que trouxe a beleza para seus olhos. O tom, antes opaco, estava cada vez mais claro e brilhante. Porém, quanto mais bonitos ficavam menos ela podia ver. As pessoas lhe falavam “como seus olhos são lindos!”, mas diante do espelho ela não podia, ao menos, ver seu rosto.
                O carro parou. Olhou para a entrada, olhou para porta, olhou para seu quarto e pra cama, mas não podia ver. Deitou-se, pensando em dormir, mas antes que tivesse fechado os olhos um pensamento lhe tomou... E se quando abri-los novamente estiver completamente cega? Não poderia dormir. E mal piscava agora. O medo de ficar cega só crescia. Ela pensou que assim que acordasse não iria perceber, iria levantar da cama e talvez chegar até o banheiro, só então perceberia que não via mais. Tentaria ficar calma. Pediria ajuda. Então, escovaria os dentes primeiro. Como só poderia contar com os sentidos, sentiria a água mais fria e maciez das cerdas da escova. Não se lembraria de pentear os cabelos e vestiria as meias diferentes. Na hora de ligar pra alguém se daria conta que não poderia olhar a agenda. E quantos números sabe decorados? Com quantas pessoas poderia contar? Com o tempo iria se acostumar. Andaria sempre para os mesmos lugares, com as mesmas pessoas, comendo a mesma comida e vestindo as mesmas roupas. Nunca mudaria o corte de cabelo ou a padaria, pois lá já sabiam escolher por ela. Com o tempo esqueceria como é o caminho para o trabalho, o rosto de seus vizinhos, que o céu muda de cor. Teria mais medo de ladrão e seria mais insegura com sua aparência. Passaria a esperar menos da vida. E pensou... Já não é assim? Adormeceu.
                Alice pôs-se a sonhar. Sonhou que estava cega. Em seu sonho estava cega há tanto tempo que não lembrava como era o mundo. Como poderia sonhar então? Mas ela queria. Decidiu sonhar um mundo seu. Cego não vê o mundo, então sonha com o que deseja. Seu mundo seria diferente; seria de outro planeta. As casas não teriam portas, o relógio não teria ponteiros, para toda janela haveria uma escada (para o alto, claro), não haveria celular, email ou correio. Pombos correio, talvez.  Assim as pessoas olhariam para o céu quando quisessem falar com alguém. Não existiriam palavras erradas, apenas possibilidade de palavras novas, criadas a qualquer momento.  Até morrer seria uma coisa boa e viver... Seria estupendo! No mundo de Alice haveria uma pessoa que saberia todas as coisas do seu mundo e da vida. Esta pessoa saberia todos os segredos da medicina. Teria a cura para resfriado, dor de cabeça e dia abusado. Iria ensiná-la que 1+1=1, risos devem ser multiplicados, lágrimas subtraídas e abraços divididos. Com ela Alice iria aprender o que é chorar de felicidade. Mas a coisa que não imaginou é que ela fosse fazê-la ver. Um dia deitaria na grama e iria querer ver para além do céu. Ouviria: “Você não sabe que para ver não se usa os olhos? Basta sentir”. Então Alice esticaria os braços e, tocando o céu, poderia vê-lo.                
                Acordou e estava cega. Coçava os olhos, fechava e abria novamente, mas não podia ver. Lembrou-se de seu sonho. Lembrou-se do que aprendeu. Começou a sentir tudo. Primeiro a si mesma, depois ao seu redor.

Acordou de sobressalto e tentou segurar as lembranças daquele sonho estranho. Havia sonhado que estava ficando cega e, no meio do sonho, sonhou que estava de fato cega. Ainda confusa levantou. Seu mundo tinha outras cores, tudo ao seu redor parecia mais claro e brilhante. Percebeu que poderia ver o mundo melhor se também pudesse senti-lo. Olhou no espelho e admirou-se, foi ao trabalho por um caminho diferente, comeu no parque, viu uma toca de coelho, tomou chá da tarde, comprou para si um lindo chapéu, encontrou uma lagarta enquanto colhia rosas brancas e vermelhas, contou estrelas na volta pra casa. Aquela noite Alice foi dormir ansiosa. Queria sonhar de novo. Sonhar com seu mundo. Mas sabia que sempre poderia fechar os olhos para chegar até ele.



"É o que vocês não sabem, não podem saber, o que é ter olhos num mundo de cegos."
                                                                    (José Saramago- Ensaio sobre a cegueira)

sexta-feira, 23 de março de 2012

Conversa de botequim


Entrou no bar com a cabeça baixa. Quase não dava pra ver a maquiagem nos olhos, nas bochechas e na boca. O cabelo solto ajudava a cobrir o rosto. A blusa era vermelha, muito colada ao corpo. Sua saia era muito curta, com pequenas manchas na parte de trás. Havia cicatrizes pelas pernas e seus braços magros estavam cruzados na frente do corpo. O corpo franzino não escondia que ainda era uma menina, mas de infantil, só a cor das unhas roídas. Um esmalte rosa que roubou da mercearia. Seus olhos acompanhavam o chão, mas não eram tristes. Vinham pensativos.
Sentou-se no balcão e pediu um copo com água. Era tudo que poderia pagar, com aquela moeda. O copo estava sujo, ela podia sentir o cheiro de cachaça; a mesma que seu pai tomava antes de bater na sua mãe. Mesmo assim, a água estava limpa e fria. Sentiu-se bem no primeiro gole, mas não podia sorrir, ou mostraria seus dentes podres. Não olhou ao redor, não quis saber quem estava ali. Sua água estava acabando e não havia mais nada a fazer, a não ser esperar. Acostumada com isto, acomodou-se no banco de madeira como pôde e ficou a passar os dedos no copo, tentando tirar a marca de gordura. Tentativa inútil de seus dedos cheios de calos. Não percebeu quando a mulher entrou. Gorda, com os seios caídos, por trás do vestido transparente. Seus passos eram curtos, suas pernas roçavam umas na outras, e era fácil de ver as veias escuras pulando ao longo de toda a coxa. Arrastou os tamancos, apressadamente, até o balcão. Pediu uma dose de cana com uma “banda” de limão. Os cabelos tinham sido clareados, mas já havia algum tempo. Deixando as raízes escuras, com cabelos brancos, a mostra. A cana chegou sem o limão. Não havia limão naquele lugar.
_ É tu que tava me procurando?
_É. Falaram que a senhora tem trabáio pra gente feito eu.
_Eu num sei, não. Já to cum minina demai.
_Mai eu num sô minina.
Uma risada alta e desajeitada ecoou pelo boteco. Com a cabeça para trás e a boca escancarada, deixou a mostra o vazio sem dentes.
_ E tu acha que é muié?
_Também num sô muié, não senhora.
_E tu é o que?
_ Eu num brinco de boneca, cuidava dos meus irmão piqueno. Levava água na cabeça e cortava lenha, robava ovo nos quintal do povo, lavava os pano no rio e varria o chão do barraco. Num sei b-a-bá, mai mode puque minha mãe disse que é coisa de rico. Pobi nasce burro e fica burro. Que pobi só aprende a ter duença.  Quando eu era bem piquena, fui na feira com minha mãe. Pegar as coisas do chão que ninguém quiria. Vi uma madame dando umas fotos... Ninguém nunca tinha me dado nada. Só porrada e grito. Eu perguntei quem era aquela muié bunita. Ela disse que era uma muié muito boa, ela cuidava das pessoa que acreditava nela. E ela tinha um pai que era bom. Ele não bebia nem batia nela, ela pedia as coisa e ele dava.  Ele não queimava ela com cigarro nem batia no lombo dela. Ela disse que ele tinha amor. Num entendi direito mode puque eu num sabia o que diaxu era este negocio de “amor”. Pensei que era como dinheiro. Que ele era bom puque tinha dinheiro. Todo dia meu pai saia da fábrica, tomava cachaça no butequim, batia na minha mãe e comia feito um porco. Já viu um porco cumendo, dona? A lavagem escorre pelos canto da boca e eles se lambuza todo. Depois ele acendia um cigarro de palha e, na hora de apagar, ele ia até meu canto e apagava neu. Uma vei ele me queimou na cara, puque disse que eu era muito feia. Um dia ele demorou a chegar. Minha mãe ficou na porta, oiando pra rua. Chegou um moleque e falô cum ela. Falô que ele bebeu muito e num tinha dinheiro pra paga. Quando eu cheguei lá tinha um homi barbado e um bem muito alto. Foro logo fechando a porta e dero mai uma dose pra meu pai. Pela primeira vez eu vi ele abaixa a cabeça. Num demorou muito e logo eu num sentia mai nada. O barbado foi por último. Cheirava a mijo e cachaça. Quando ele terminou cuspiu pra o lado. Senti uma dor na barriga, virou-se tudo lá dentro, mas tinha nada pra botar pra fora. Voltei pra casa. E neste dia me deram um bocado de cumida a mais. No outro dia meu pai num foi beber. Chegou mais cedo e ficou do lado de fora, enrolando o cigarro. E continuou assim, até uma semana que ele chegou mais bebo que nunca. Foi no meu canto, me puxou pelos cabelo, cuspiu na mina cara e disse que filha dele num é sem vergonha. Me chutou pra fora do barraco e fechou a porta. Minha mãe olhava da janela, uma lágrima descia só de um lado da cara. Pensei na minha foto que ficou lá dentro... Se eu tivesse amor isto não acontecia cum eu. Mai a madame disse que ela protegia. E num protegeu nada. Vai vê é pu mode que eu sou feia e sem vergonha. Depoi fiquei sabendo da senhora e do que gente feito eu faz. Eu quero trabaiá dona. Quero ter dinheiro. E, se esse negocio de amor for bom mesmo, eu compro um punhado.
_Então pegue suas coisa e vamo.
_Dona, de meu só tem este último gole d’água. 
Passei o pano no rosto e nos copos, quando foram embora. Debruçado sobre o balcão, com a mão no queixo, esperei a próxima chegar.

segunda-feira, 5 de março de 2012

Caminhando e Cantando

Viu a lua ao dobrar a segunda esquina. Sorridente. Amarela. E parecia lhe acompanhar, iluminando seu caminho. A rua de pedra ainda estava molhada. Uma chuva pesada, mas rápida. Destas que lhe impedem de caminhar, porém limpam toda a sujeira do lugar. Já não havia muita gente na rua. Muitos desistem de sair ao ver os primeiros pingos de chuva.
_ O que vem depois do fim?
_ Um novo começo.
_ E como vai ser este começo?
_ Não sei, mas iremos descobrir.
Continuaram a conversa em silêncio. Palavras agora não importam. Já não tem o peso de um sentimento. Se é que tiveram um dia...
Estava quente. Pôde sentir o cheiro das flores na esquina seguinte. Elas sobreviveram a chuva. Na verdade, pareciam mais vivas. A terra ao seu redor havia sido encharcada, escorrendo para os lados, perdendo um pouco de si. As flores suportaram a mesma chuva e permaneceram em seu lugar. Com o calor, toda aquela umidade se tornaria orvalho; vida.
Alguém abriu a janela. Um gato cinza pulou do muro e sentiu-se incomodado com o chão molhado. Primeiro levantou a pata esquerda e balançou, depois passou a língua na pata. Jeito estranho de secar. Do outro lado da rua estava a praça, é para lá que ele estava indo. Os bancos ainda estavam molhados... De todo modo, sua intenção não era sentar. Ao passar sob as árvores sentiu gotículas caindo em seu rosto, com cheiro de folhas e talos. Um cheiro de chá tomava a praça. Não era doce, mas calmante. E na esquina seguinte estava a lua a sorrir.
_ Você consegue ouvir?
Andavam lado a lado, em completo silêncio, já havia uns minutos.
_ Consigo.
Alguns momentos eram assim. Não precisava perguntar “o quê” ou “por quê”. Não precisava ser dito. Para entender bastava sentir.
                Ventou. As árvores balançaram, o gato correu, as flores tremeram, um pequeno pedaço de papel passou na sua frente. Mas não viu nada disto. Distraiu-se com a música.
Continuaram caminhando, sem trocar nem uma palavra. Apenas ouvindo uma música que vinha de longe ou que acabaram de inventar, sentindo o que mais ninguém entenderia.
E quem olhasse diria que havia uma pessoa caminhando, com passos calmos e os olhos no céu. Já sabia que mais ninguém entenderia.



"isso de querer ser
exatamente aquilo
que a gente é
ainda vai
nos levar além"

( Paulo Leminski )

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Lista de ano novo para todos os anos

Neste ano eu quero um gato, andar a cavalo e que meu peixe não morra. Quero que todo dia seja o oitavo dia da semana. Prometo dirmir mais e dormir menos. Comer o máximo de algas marinhas que puder, sem esquecer de reclamar que comi muito.
Neste ano eu quero reconhecer tudo que eu não posso fazer e fazer tudo que posso. Neste e nos próximos...


Não pude aprender sem errar.
Mas pude aprender e saber o que esta em jogo, para não errar mais.
Não posso deixar de sonhar com você.
Mas posso continuá-lo toda vez que acordar.
Não posso esquecer o que passou.
Mas posso construir lembranças melhores, com você.
Não posso trazer a lua toda vez que você quer vê-la.
Mas posso lhe descrever a lua mais linda, até que a veja.
Não posso fazer com que o clima seja dois ao mesmo tempo.
Mas posso tentar que sinta apenas frio ou calor.
Não posso tornar as coisas mais fáceis.
Mas posso esperar até chegar o dia que não doa tanto.
Não posso consertar todas às etiquetas.
Mas posso contar com você para consertar as minhas e eu consertarei as suas.
Não posso fazer parar de coçar.
Mas posso segurar suas mãos até que passe.
Não posso dizer que não aconteceu.
Mas posso dizer que não vai acontecer mais.
Não posso avisar toda vez que estou prestes a dormir.
Mas posso lhe dar boa noite mesmo sem falar, pois você é meu ultimo pensamento do dia e meu primeiro ao acordar.
Não posso deixar de cantar sem perceber.
Mas posso ter certeza que só você vai entender o significado.
Não posso deixar de ter preguiça.
Mas posso ter preguiça só pra “deitar e não fazer nada” com você.
Não posso fazer você esquecer o que escutou.
Mas posso fazer com que não ouça mais aquelas palavras.
Não posso dirigir com você me olhando.
Mas posso tentar... um dia.
Não posso deixar de ver você em todo lugar.
Mas só pode ser por que é impossível.
Não posso deixar de pensar que magoei você.
Mas posso fazer com que isto nunca mais aconteça.
Não posso trocar lâmpadas por estrelas.
Mas posso te levar até onde as estrelas estão.
Não posso parar de me preocupar com você.
Mas posso ficar tranqüila por que sei que você também se preocupa comigo.
Não posso adivinhar de que planeta você veio.
Mas posso te levar de volta para lá.
Não posso deixar de estranhar.
Mas posso saber exatamente o que seria estranho.
Não posso falar com você toda hora.
Mas posso usar telepatia.
Não posso deixar de sentir saudades quando você vai embora.
Mas posso sorrir quando lembro que você esteve aqui.
Não posso lhe dar aquele abraço que faltou.
Mas posso lhe lembrar que ele ainda virá.
Não posso impedir você de fazer o mesmo.
Mas posso sentir o aperto no peito, toda vez que lembro disto.
Não posso deixar de pensar que o tempo é pouco.
Mas posso aproveitar cada minuto com você.

Posso passar o resto da vida escrevendo, mas, mesmo assim, ainda não acabarei a lista. Ainda há tantas coisas que não posso... algumas eu posso... e o mais eu aprendo com você. Seja você me ensinando, seja você do meu lado. Por que as coisas vão melhorar. Ah! Hoje eu já disse que te amo? Não preciso nem colocar na minha lista, porque...

Seja clichê, seja novo, seja único, seja estupendo, seja de uma transparência que eu não sabia que poderia existir. Eu te amo.

Quem sou eu

Minha foto
PE, Brazil
Um constante vir a ser. Seguindo a sombra dos moinhos de vento...