sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Conversa de doido


         O telefone tocou, cortando o silêncio, que só existia fora dele.
_ Alô, boa tarde!
_ Boa tarde. Quem é¿
_ Aqui é da empresa de cartões X e gostaria de saber se posso lhe fazer umas perguntas. É possível?
_ O que é possível¿
_ Que eu lhe faça algumas perguntas, senhor.
_ Não sei.
_ Como não sabe?
_ Não sei meu rapaz. Eu nem lhe conheço e você liga para me perguntar o que você pode fazer¿
_ Não era bem isto que eu queria dizer...
_ Então diga o que queria!
_ Quero saber se o senhor vai responder minhas perguntas.
_ Ainda não sei.
_ Não entendo! Como não pode saber?
_ Você ainda não fez as perguntas, como vou saber se posso responder ou não¿
_ Veja bem, meu senhor, eu só estou tentando fazer meu trabalho...
_ Deveria considerar mudar de emprego.
_ Por que acha isto?
_ Você me parece muito inseguro.
_ Eu não estou inseguro! Eu sei muito bem qual é meu trabalho! O senhor que está dificultando.
_ Tem certeza¿
_ Claro! Você não me deixa fazer as perguntas! Vai me deixar fazer as perguntas¿
_ Mas é só o que você tem feito desde que atendi!
_ Não era pra serem estas perguntas.
_ E você diz que sabe fazer seu trabalho...
_ O que o senhor falou¿!
_ Filho, até entendo que você não saiba fazer muito bem seu trabalho... Mas também não entende o que dizem¿! Aí já é demais!
_ Esta foi a gota d’agua! Eu não entrei aqui para isto! Eu sou formado, sabia¿
_ Não... Mas acho bom que estejamos nos conhecendo melhor.
_ Chega!
         Depois do “clic” ele percebeu que o fone do telefone havia sido largado. Logo ele fez o mesmo e voltou para seu quarto. A enfermeira se aproximou, colocou o fone no ouvido e pode escutar baixinho, baixinho... “É isto mesmo! O que estou fazendo aqui¿ Eu sou formado... Não sou¿ O que são estas perguntas¿ Eu não posso passar a vida fazendo isto...”. Ela colocou o fone de volta ao telefone e teve certeza. Mesmo o hospital psiquiátrico que trabalha estando lotado, ainda tem muita gente doida neste mundo.

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