terça-feira, 26 de abril de 2011

Uma festa na sala


                                                             "Sou dono de uma verdade que não se  traduz em palavras"(Fernando Sabino)

            Respirou fundo para verificar se ainda havia vida. O que restou da noite passada? espalhadas pela pequena sala havia garrafas, devolvendo o recente vazio para quem as olhava. Não consegue lembrar quanto tempo dormiu, mas sabe que sonhou um sonho bom, que lhe fez esquecer todo o resto... Mas o resto se fazia presente nas paredes, no chão, no ar...  Lembrou que a fechadura estava quebrada. Agora nada mais vai poder sair. Com muito esforço, talvez, uma dorzinha pela janela. Porém, o corpo está dormente. E a alma permanece embriagada. Nada pensa. Nada fala. Mas sabe que não morreu, porque ainda sente. Senti por si e sente pelos seus. Sente até não suportar mais. E não suportando explode em pedaços. Deixando sua pequena sala ainda menor. Começa um papo em silêncio, olhando para seu rosto em pequenos espelhos expressivos. Sábias palavras foram ditas, provocações feitas, caras, bocas, preces para um deus (recém)-inventado (cujo ainda não se sabe se tem auréola ou chifres), sons inexprimíveis... Música!  Havia música na sala! Agora se lembra de que todos dançavam inebriados. E no meio da sala alguém (ou algo) observava, ria, chorava... Quando não pôde mais calar, e resolveu participar, deixou a todos boquiabertos. "Que som é este? coisa estranha aos ouvidos!". Ninguém soube identificar o que estava acontecendo. A festa acabou. Foram todos dormir. Mas lá no meio da sala alguém fecha os olhos e sente. Respira fundo, lava o rosto, volta para a sala e recolhe os cacos. Melhor consertar a fechadura, a porta precisa ser aberta. A sala é pequena demais.

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