terça-feira, 7 de junho de 2011

O dia que choveu em mim

                                                                                                                      " cara, já tentei macrobiótica psicanálise drogas acupuntura suicídio ioga dança natação cooper astrologia patins marxismo candomblé boate gay ecologia, sobrou só esse nó no peito, agora faço o quê? "      (Caio Fernando Abreu)

 
Era um dia qualquer, estava nublado e frio. Não queria sair de casa. Queria ficar na cama, dormir até tarde, esquecer que tinha de esquecer um monte de coisas. Coisas...  Todas espalhadas, ocupando o devido lugar na desordem. Ainda havia água no copo, ainda havia roupa suja no chão. Arrastou-se até o banheiro, escovou os dentes com descaso. No chuveiro pensou se a torneira tava com defeito ou não a fechou direito. Parou em frente ao espelho. Examinou os olhos. Estavam brancos e sem graça. Saiu secando o cabelo, enquanto andava pela cozinha, ainda sem roupa. Procurando o que comer, com os pés molhados. Cuidou de tomar a água que ainda estava no copo. Uma coisa a menos. Desistiu de comer. Para sair do marasmo, imaginou que tinha um horário. Tinha que sair de casa. Vestindo a roupa, ainda pensava na pia... Mas não tinha tempo. Antes de sair, pegou o livro que lhe fez dormir tão tarde e o guarda-chuva que ganhou de um amigo.
Na parada de ônibus, a chuva molhou seus tênis. Tudo bem, por que já se molhavam no caminho, mas, por algum motivo, aquilo começou a lhe incomodar. O tecido azul agora parecia preto, de tão escuro. Algumas marcas de lama no pé esquerdo... Não gostava de lama... Pesava e prendia. Decidiu que não tinha mais horário. Tinha frio e um pouco de fome. Mudou seu caminho para um importante lugar que ainda não sabia onde era.

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Um constante vir a ser. Seguindo a sombra dos moinhos de vento...