segunda-feira, 5 de março de 2012

Caminhando e Cantando

Viu a lua ao dobrar a segunda esquina. Sorridente. Amarela. E parecia lhe acompanhar, iluminando seu caminho. A rua de pedra ainda estava molhada. Uma chuva pesada, mas rápida. Destas que lhe impedem de caminhar, porém limpam toda a sujeira do lugar. Já não havia muita gente na rua. Muitos desistem de sair ao ver os primeiros pingos de chuva.
_ O que vem depois do fim?
_ Um novo começo.
_ E como vai ser este começo?
_ Não sei, mas iremos descobrir.
Continuaram a conversa em silêncio. Palavras agora não importam. Já não tem o peso de um sentimento. Se é que tiveram um dia...
Estava quente. Pôde sentir o cheiro das flores na esquina seguinte. Elas sobreviveram a chuva. Na verdade, pareciam mais vivas. A terra ao seu redor havia sido encharcada, escorrendo para os lados, perdendo um pouco de si. As flores suportaram a mesma chuva e permaneceram em seu lugar. Com o calor, toda aquela umidade se tornaria orvalho; vida.
Alguém abriu a janela. Um gato cinza pulou do muro e sentiu-se incomodado com o chão molhado. Primeiro levantou a pata esquerda e balançou, depois passou a língua na pata. Jeito estranho de secar. Do outro lado da rua estava a praça, é para lá que ele estava indo. Os bancos ainda estavam molhados... De todo modo, sua intenção não era sentar. Ao passar sob as árvores sentiu gotículas caindo em seu rosto, com cheiro de folhas e talos. Um cheiro de chá tomava a praça. Não era doce, mas calmante. E na esquina seguinte estava a lua a sorrir.
_ Você consegue ouvir?
Andavam lado a lado, em completo silêncio, já havia uns minutos.
_ Consigo.
Alguns momentos eram assim. Não precisava perguntar “o quê” ou “por quê”. Não precisava ser dito. Para entender bastava sentir.
                Ventou. As árvores balançaram, o gato correu, as flores tremeram, um pequeno pedaço de papel passou na sua frente. Mas não viu nada disto. Distraiu-se com a música.
Continuaram caminhando, sem trocar nem uma palavra. Apenas ouvindo uma música que vinha de longe ou que acabaram de inventar, sentindo o que mais ninguém entenderia.
E quem olhasse diria que havia uma pessoa caminhando, com passos calmos e os olhos no céu. Já sabia que mais ninguém entenderia.



"isso de querer ser
exatamente aquilo
que a gente é
ainda vai
nos levar além"

( Paulo Leminski )

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Um constante vir a ser. Seguindo a sombra dos moinhos de vento...