quinta-feira, 26 de agosto de 2010

"Neste momento, a solidão nos atravessa como um dardo". ( Hélio Pelegrino)

2° ATO


Eu sempre achei que não tinha senso de direção. Estranhava o fato de nunca achar o mesmo lugar. Para mim, até mesmo achar minha casa era difícil. Nunca me passou pela cabeça que, antes de sair procurando algum lugar, eu teria de saber para onde quero ir. E isto, eu vejo, que nunca soube.
Por isto escapo para meu trabalho. Insisto que é o único momento que tenho domínio. Tudo se da sob minhas mãos. É através delas que um mundo se forma... O meu mundo. Neste mundo a história muda todos os dias. Mediante minha regência, ele vai tomando forma, adquirindo características e cores. Mas quando saio da câmara escura, dou de frente com o outro. Por causa deste outro eu mudo. Vou pastosamente me adequando ao recipiente que ele me impõe. Numa forma de compaixão, com quem não irá me entender. O que eu não entendo é esta compaixão que sinto. Este monstro que alimento, mesmo sabendo que um dia irá me devorar. A cada pôr-do-sol ele se alimenta da minha dor e cospe angústia no meu rosto. E, da varanda, tento manter a concentração no meu copo, enquanto ao meu redor tudo muda.

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