Eu tenho lhe visto e
nossos dias têm sido agradáveis e tranquilos. Você olha nos meus olhos e diz
que vai fica tudo bem. Retorno seu olhar e lhe digo que já está. Você sabe que
nem tudo está tão bem. E eu sigo dizendo que sim. Pode ser por que cada vez que
afirmo me faz acreditar que uma hora ficará.
...
Conhecemos-nos tão bem,
não é? Não. Na verdade não. Você tenta extrair de mim o que me tornei. Eu já
desisti. Recolho o que você me dá. Vejo o que você me permite ver. E refaço
todo o caminho, desta vez em minha mente, juntando os tijolos amarelos que
encontro no trajeto.
...
Como você se sente
minutos antes do nosso encontro? Lembra-se de como foi nossa ultima despedida?
Você lembra? Em frente a sua porta, pouco antes de entrar, seco minhas mãos
suadas. Sei que você já me espera para mais um dia agradável e tranquilo.
Passei todo o percurso pensando que não é isto que quero. Preciso do atrito!
Agito! Amargo! Quero que seu corpo fique suado. Quero gritar com você. Quero
cuspir na sua cara e dizer que a culpa toda é sua. Pegue-a de volta!
...
Mas então, eu entro e
você me dá seu melhor sorriso. Vejo seus dentes brancos e olhos que dissimulam
o que realmente está pensando. Nos segundos perdidos com seus olhos, perco
também meu plano de vingança. Volto a fingir que está tudo bem.
...
O processo é o mesmo.
Primeiro você, depois eu. Ambos fingindo satisfação. E, sem que ninguém precise
dizer nada, sabemos que é hora de ir embora. Quase acabado nosso encontro, nos
despedimos como velhos amigos que não se veem há bastante tempo: Desajeitados e
constrangidos. Está é a verdade. Ou sou só eu? Você me diz alguma coisa e eu
olho para trás. Não precisava me dizer nada. Eu olharia de todo jeito.
...
Observando meus pés na
calçada do seu prédio, enquanto espero o ônibus, percebo minha fraqueza recorrente.
Onde foi parar meu plano de vingança?! A indignação cega me toma. Volto para
casa levando ela comigo e você, mais do que nunca, se faz presente. Os dias se
passam e a raiva com eles. Reflito sobre meu plano... Talvez você não tenha
tanta culpa. E em poucos dias você não terá culpa alguma. Talvez só precisemos
conversar. Você dirá que é só o que temos feito e começaremos tudo novamente.
...
Você se importa se hoje
eu não lhe olhar nos olhos? Falar só não basta. É que precisamos mesmo
conversar.
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