domingo, 24 de março de 2013

Pobre diabo!


Eram três amigos saindo do bar as três da manha. O mais alto já havia bebido tanto que só estava em pé coma ajuda dos outros dois. Um de cada lado amparando seu corpo que, apesar dos esforços, pendia para frente dando um tom cômico a cena toda.
- Diabo! Não sei por que fui beber tanto!
- Não fala em diabo, Gabriel! Esta é a hora que o bicho tá solto!
- É? Pois que venha ele então. Muito pior que ele vai ser minha mulher quando eu chegar em casa!
Finalmente fecharam a porta do bar, deixando o barulho dos copos, o som de má qualidade tocando e os risos bêbados para trás. Agora sim, mergulharam na madrugada, seguindo pelo meio da rua vazia, juntos cantando: “Salt Peanuts! Salt Peanuts!”. Foi quando o amigo que ainda não havia falado parou. A frente deles um gato preto com olhos amarelos.
- Que foi, Garcia?
- Não estão vendo?! Falou quase sussurrando.
- O que tem demais em um gato? Vai dizer que tem medo.
O bichano, por sua vez, parecia ter notado que falavam dele e, vaidoso, parou para escutar.
- A culpa é sua, Gabriel! Que foi chamar o diabo!
Gabriel e Marquez riram alto. Garcia já não segurava mais seu amigo, que começou a cair para o lado vazio. O gato continuava parado. Tudo isto em meio a encruzilhada próxima a rua deles.
- Tá dizendo que este gato é o diabo?
- E você ainda duvida!? Olhos amarelos, numa encruzilhada, em plena madrugada! São 3h33! 3h33!
Falou apontando para o gato que, a esta altura, já havia deitado e apenas balançava devagar o rabo esperando o desfecho da história.
- Então devemos fazer um pedido! Falou Marquez.
Ele não estava tão bêbado quanto os outros, mas estava gostando de brincar com o Garcia.
- Eu quero um carro de luxo! E você, Garcia?
- Eu quero uma mulher linda e doida por mim! E você, Gabriel?
- Este não é o diabo. Eu já peço ao diabo há anos. Vivo dizendo: Mulher, o diabo que te carregue! E nunca aconteceu nada.
Depois de um segundo de silêncio, esperando que o gato fizesse algo, os três riram até chorar. Só podiam ter bebido muito mesmo. Sem que percebessem, por ter passado um rato ou achado coisa melhor para fazer, o gato se levantou e entrou no beco mais próximo. Foram para casa ainda cambaleando, mas calados.

Continuaram voltando ao bar, como de costume. Indo para casa tarde, como era de se esperar. E uns anos se passaram até que um dia o Marquez não foi. Descobriram depois que ele havia sido atropelado por um carro no centro. O carro de motor veloz não deixou chance para que ele escapasse. Não muito tempo depois foi o Garcia não apareceu. A mulher o pegou na cama com outra e matou os dois com a arma do Garcia. Neste dia Gabriel saiu mais cedo do bar. Procurou em todos os becos, mas não encontrou. Sentou-se na mesma encruzilhada de anos atrás. Foi quando apareceu um gato preto de olhos amarelos. Gabriel saltou tão rapidamente que o gato não pôde fugir. Andou quatro ruas abaixo e jogou o gato no rio. Agora que matou o diabo estava aliviado. Tanto por vingar seus amigos, quanto pela sua segurança.
Ao chegar em casa notou um bilhete na porta:

Gabriel,
 Não vou mais aguentar sua bebedeira. Minha mãe me pegou e estou indo morar com ela.
                       Ana.”

Respirou profundamente, tirou o casaco e sentiu a bebida percorrendo todo seu corpo. De olhos fechados, sentado na sala, começou a chorar. Gabriel iria se arrepender para sempre por ter matado o gato. “Sabia que não era ele!” .Pensou.

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