quinta-feira, 28 de março de 2013

Poema para ela


  2.      Não vi que...



Decifra-me ou devoro-te homem/mulher, eu sou teu eu interior. Teu verdadeiro eu. Sou teu subconsciente e inconsciente, teus sonhos e devaneios, tuas dúvidas e perplexidades, tuas crenças e valores, teus defeitos e qualidades, amores e ódios, desejos e aversões, fragilidades e fortalezas.
 (Lenda do enigma da esfinge)


Marília, que até pouco tempo atrás se chamava Roberta, não sabia lidar com aquilo. Era vizinha de um poeta. E ele sabia que ela lia suas poesias. A qualquer momento ela poderia ser contemplada com uma poesia sobre ela. Quando estava fora de casa ela ficava ansiosa. Queria logo voltar para ele. Nunca se dedicou tanto a dança! Dançava como se tivesse as sapatilhas mágicas. A cada passo pensava em seu poeta. Cada dia mais se alimentava da imagem dele. Começou a ficar triste quando notou que ele sequer olhava para ela. O que teria de fazer para chamar a atenção dele? Era isto! Pensaria em algo que o fizesse notá-la. A partir deste dia a dançarina teve como objetivo se tornar musa de seu poeta. A verdadeira Marília de seu Dirceu.
Colocou a música mais alta do que nunca, fez os mais difíceis passos de dança que sabia, deu gargalhadas ensurdecedoras, chorou o suficiente para afogar um peixe, entrou madrugada adentro empenhada em se fazer notar. Foi quando ele levantou os olhos que estavam fixos na mesa e mirou em sua direção. No dia seguinte ela estava extremamente feliz. Chegado o dia da entrega dos jornais, ela correu até a banca mais cedo. Mal podia esperar pra ler o que ele escreveu sobre ela! Por isso, não quis acreditar quando leu o poema “janelas”. Como ele pôde escreve sobre as janelas e nem uma linha sobre ela?! Estava obstinada a fazer seu poeta escrever sobre ela. Era um desejo que a devorava por dentro. Não conseguia entende-lo. Por que ele não a via? Sem perceber ela se deixou ser consumida pelo seu silêncio.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Quem sou eu

Minha foto
PE, Brazil
Um constante vir a ser. Seguindo a sombra dos moinhos de vento...